terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Fenomenologia e Psicologia

FENOMENOLOGIA

   "É possível conhecer o ser humano partindo de sua interioridade?"

  "A Filosofia fenomenológica como universalíssima e consequentíssima prossecução da ideia de autoconhecimento, que não é apenas a fonte primitiva de todo conhecimento genuíno, mas também se entremete em todo autêntico conhecimento" (Hua I/193)  

 
Levantar conhecimentos sobre o método fenomenológico seus conceitos fundamentais e, sobretudo, de como utilizá-los, para tanto, faremos reflexões e investigações sobre o que é o fenômeno e como ele se mostra ao indivíduo, sem perder de vista que a fenomenologia, para Husserl, não pretende ser "apenas" uma metodologia ou um sistema filosófico definitivamente estruturado, mas sim algo que demonstre que a "essência" está contida na interpretação realizada sobre a significação que damos ao objeto."Fenomenologia - disgna uma ciência, uma conexão de disciplinas científicas; mas, ao mesmo tempo e acima de tudo, 'fenomenologia' designa um método e uma atitude intelectual: a atitude intelectual especificamente filosófica, o método especificamente filosófico. (In: A ideia da fenomenologia, 2014 p.440. O pensar da atitude intelectual como crítica ao conhecimento que vem da "atitude do pensamento natural" ("factum" psicológico).
A palavra fenomenologia é a junção de dois radicais da língua grega, a saber: o verbo phaíno e o substantivo lógos. Por phaíno entende-se: "fazer-se brilhar, fazer-se visível, aparecer, mostrar-se"; por lógos: "a razão como primeira reflexão, substância ou causa do mundo, discurso, argumento, pensamento, explicação,razão".
O termo fenomenologia foi utilizado por diferentes pensadores na história da filosofia. O primeiro texto em que aparece este termo é de 1764 na obra o "Novo Órganon" escrito por Johan Heinrich Lambert discípulo livre de Cristian Wolff, que entende a fenomenologia como sendo uma teoria da ilusão sob suas diferentes formas que serve para fundamentar o saber empírico. Immanuel Kant retoma o termo em 1770, numa carta a Lambert onde levanta o conceito de "phaenomenologia generalis", indicando ser a fenomenologia uma disciplina propedêutica, ou seja, uma ciência cujo o estudo é a preparação necessária para o conhecimento que deve preceder a toda metafísica. Em 1897, na obra "Fenomenologia do Espírito", de Georg W. F. Hegel, é que o termo entra definitivamente na tradição filosófica. No entanto, não é a fenomenologia hegeliana que permanece como movimento e pensamento filosófico, mas sim, a concepção elaborada por Edmund Husserl.
Surge então, com Husserl, a sistematização do movimento fenomenológico que dará um novo conteúdo a um conceito ao termo anteriormente utilizado por pensadores que o precederam. Husserl formula as principais linhas dessa nova abordagem abrindo caminho para o alargamento sobre a reflexão fenomenológica no século 20, podemos citar como exemplos, filósofos como Martin Heidegger, Karl Jaspers. Jean Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty, Paul Ricoeur, entre outros, e assim, observar que o desenvolvimento da fenomenologia, como uma metodologia consistente capaz de analisar o ser humano sobre outros prismas, estendendo sua influência a diversas áreas das ciências humanas. 
A Fenomenologia apresentada como uma metodologia possível para o século 20, pretende ser  uma ferramenta para o desenvolvimento de uma  nova filosofia científica, como Husserl insiste em indica-la como um instrumento rigoroso para estabelecer exclusivamente, "conhecimentos de essência" e, de modo algum como um instrumento para analisar "conhecimentos de fatos" pois estes, para Husserl, devem ser estudados pela Psicologia.
Com os instrumentos de verificação apontados por Husserl, a fenomenologia pretende revelar a aparência sensível do sujeito consciente "refletido" no objeto, eliminando contrapontos de separação e de dicotomias entre o sujeito que vê e o objeto que existe, entre o homem e o mundo, separações imposta pelo racionalismo, pelo empirismo e posteriormente afirmadas pelo positivismo; a fenomenologia husserliana afasta a possibilidade do objeto existir fora do sujeito.



A INVESTIGAÇÃO FENOMENOLÓGICA E A PSICOLOGIA

O impulso da investigação fenomenológica deve partir das próprias coisas. Para Husserl, não sou eu, nem as minhas convicções que podem construir um conhecimento verdadeiro, e, sim, as próprias coisas, como estas se revelam em sua pureza evidente. Para ele não é das filosofias que devem partir o impulso para a investigação, mas, das coisas e dos problemas, ou seja, da claridade intuitiva sobre a essência do conhecimento. Assim a fenomenologia husserliana prescindirá do caráter existencial das coisas para dirigir as atenções.
A questão da psicologia, acompanha Husserl desde o início de suas investigações, como um fio condutor, embora ele nunca tenha se interessado por uma psicologia empírica -  conhecimento de fatos (a qual propriamente é a tarefa do psicólogo) - para Husserl, a investigação fenomenológica, se detêm na investigação dos conceitos fundamentais que embasam a estrutura do ser humano (a partir das quais, portanto, podem-se compreender também as atitudes psicológicas). A psicologia pura identifica-se com a filosofia transcendental, enquanto a ciência da subjetividade transcendental identifica-se com a fenomenologia, no sentido husserliano do termo.
Provavelmente Husserl tenha já encontrado em Kant, uma demarcação territorial que incluía, pelo menos três, razões pelas quais uma ciência da psicologia não era possível em uma orientação filosófica: "o fato de a mente ser afetada enquanto estuda a si própria; a falta de extensão espacial essencial a qualquer experimentação; e a ausência de uma base matemática, necessária a toda ciência. Kant concluiu que a psicologia não pode, portanto, jamais se tornar algo mais de que uma doutrina natural histórica (e, como tal, tanto quanto possível) sistemática no sentido interno, isto é, uma descrição natural da alma, mas não uma ciência da alma, nem mesmo uma doutrina experimental psicológica" (citado em Howard Gardner, 2003, p. 73). Esta advertência de Kant por muitos anos inibiu pesquisadores interessados em questões do conhecimento cognitivo.
Para Husserl o filosofo é quem proporciona o conhecimento da estrutura profunda que habita o ser humano transcendental; ao passo que o psicólogo trabalha no mesmo terreno, mas de um ponto de vista empírico e positivo, como um cientista. Por exemplo: nós sabemos o que é a dor e a partir disto analisamos como a dor atua nas condições humanas específicas, nas circunstâncias, nas situações: e este é o objeto da investigação própria do psicólogo.
A novidade da posição filosófica de Husserl é que ele não começa pela análise da subjetividade (como por exemplo faziam Kant e Descartes), mas sim e justamente, por uma ciência da subjetividade a qual Kant questionava sua eficiência, exatamente pela nova perspectiva científica que fundamentava-se, a psicologia.
Assim, Husserl parte de uma ciência constituída historicamente, a Filosofia, considera os conhecimento levantados por ela como digno de reconhecimento científico acumulado historicamente, analisa o terreno que estes conhecimento se situam (que é o terreno do mundo interior do ser humano) e busca construir um novo método que examine a compreensão sobre eles, um método que busque interpretar os Fenômenos que se apresentam na observação do fato: um método de análise filosófico, pois a análise transcendental é uma análise filosófica. A ideia de realizar essa análise surge em Husserl a partir da Psicologia (da escola de Brentano), e não da consideração de um sujeito humano abstrato, como até então a tradição filosófica perseguia. Para Husserl não haverá fenomenologia do ser, mas apenas uma fenomenologia da razão.
O Método Fenomenológico surge no interesse que Husserl tem estudando a psicologia de Franz Brentano, procura oferecer instrumentos de base científica para construir uma "nova" análise do ser humano e que fosse diferente de uma análise psicológica. A respeito da relação entre a psicologia e a fenomenologia encontramos na obra "A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental" que:

"Não há fundamentalmente, uma psicologia que pudesse permanecer psicologia. Uma vez encontrado o método de abertura da intencionalidade, o caminho analítico das unidades pré-dadas até as profundezas propriamente constitutivas da vida intencional e, então, da abertura para a dimensão transcendental, prossegue-se pela "coerência das coisas mesmas". A psicologia não pode deixar de desembocar na filosofia transcendental. Sempre subsiste, no entanto, uma diferença entre psicologia e a fenomenologia, mesmo depois de percorrido o caminho que leva da psicologia à fenomenologia. A psicologia não é um "mero estádio prévio" da fenomenologia, a que falta uma reflexão sobre a sua abordagem: isto é, a psicologia como estádio (período ou momento de uma evolução), no caminho para a fenomenologia. Mas, quando ela percorreu este caminho, quando "desembocou" na fenomenologia, mesmo aí mantém-se ainda uma diferença entre as duas." <516>

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